sábado, 26 de março de 2011

TÓPICOS DE FILOSOFIA: O RACIONALISMO, A FÉ E A CIÊNCIA


Queridos, a paz do Senhor a todos!

Durante muito tempo ouvi que a filosofia era, numa expressão bem pejorativa, "o cão chupando manga", "cemitério da fé", "coisa de doido, sem nexo e noção das coisas", "preponderância do mundo sobre Deus", etc. Quando me converti ao evangelho (fev 1991), iniciei um curso de Bacharelado em teologia, pela inesquecível FAETEL, Faculdade de Educação Teológica LOGOS, na época dirigida pelo Pr. Alcindo Toledo, um particular amigo. Tive aulas com Olivir Bueno Apolidoro, um ex-militar muito prático, cômico e conhecedor da Bíblia numa dimensão bastate interessante.
Mas via de regra, ouvia e presenciava as pessoas "malhando" a filosofia. Já havia estudado filosofia num seminário católico de formação vocacional, e não havia detectado que ela era esse "bicho papão". Após concluir meu bacharelado, cursei filosofia.

Me avisaram que eu iria me desviar do evangelho, além de outros impropérios. Nada disso aconteceu e, pelo contrário, os fundamentos racionais da razão corroboraram muitos aspectos profundos da minha fé, graças a Deus. Tempos depois, pelo meu labor profissional, fui diretor de uma instituição de ensino superior e imaginem qual era o curso principal dela? Filosofia! E foi essa aproximação sincera com a filosofia que fizeram ter a idéia de difundir, no momento apropriado, alguns aspectos da filosofia que muitas pessoas, por desconhecerem-na totalmente, ignoraram e até atacam. Mas e os símbolos pagãos da filosofia? E o sincretismo religioso que ela favorece, pelas muitas idéias? Tudo a seu tempo...

Mas tem Colossenses 2.8, onde Paulo ataca a filosofia. Não! Engano! Paulo fala de "filosofias", que será assunto de outra postagem. Abaixo, o artigo, que já escrevi há um bom tempo:

O RACIONALISMO, A FÉ E A CIÊNCIA

Depois das primeiras tentativas gregas de compreender o mundo e suas determinações, a Europa, o grande berço de tais iniciativas, mergulhou em uma letargia criativa. Pouco se fez durante mais de um milênio em que o feudalismo, como modo de produção e o catolicismo, como fonte de todas as determinações da realidade imperaram.

O renascimento representou um momento de substituição de valores. Houve ali o afastamento de um mundo em que o seu próprio sentido era alheio ao homem e aos seus domínios. O pensamento europeu manteve-se pasmo diante do fato de que a negação dos valores cristãos medievais não significava necessariamente a chegada de uma nova alternativa para a busca do sentido perdido do mundo. Vivia-se em um limbo, um vazio intelectual, os valores medievais não eram mais válidos e nenhuma outra fonte de verdade surgira para ocupar o vácuo que ficara.

Uma alternativa seria a recuperação dos valores cristãos e, nesse ponto, o racionalismo, sobretudo nas propostas de René Descartes, significou uma tentativa de revitalização do pensamento da Igreja que perdia crédito. Algo parecido havia sido tentado quando a síntese patrística agostiniana mostrara falhas e a Igreja deu novo vigor à sua doutrina a partir das contribuições do Padre Angélico.

As contribuições cartesianas foram aceitas, mas da sua árvore do conhecimento a modernidade não aceitaria as raízes metafísicas. Uma nova época, precisava nascer e a proposta de fundamentação do racionalismo, suas raízes figuradas na árvore cartesiana, não foram suficientes para aplacar as críticas às injustificáveis posturas inatistas que ainda tinham o pé-de-apoio na teologia cristã medieval.
Um maranhense de Carolina, Hilton Japiassú, em um interessante livro (As paixões da ciência) dá a entender que as tentativas de justificar o relacionamento com Deus falharam desde Tomás de Aquino e que, séculos depois, Descartes nada mais fizera que cumprir uma tarefa que a “Santa Sé” lhe havia confiado de renovar a sua teologia cristã.

Do pai do racionalismo foi apagada da memória posterior quase toda a teologia. O que restou foi absorvido pelo eu transcendental de Immanuel Kant, autor de uma grande síntese e possivelmente o pai de grandes avanços da razão desde a sua Crítica da Razão Pura.

Mas antes de a modernidade abraçar Kant, foi preciso ouvir os clamores do empirismo. Esse é outro importante capítulo da complicada história da ciência, que embora vez por outra se encontre com suas próprias (e naturais) limitações, não entregou os pontos.

Dando números finais a estas limitadas linhas de exercício do pensamento filosófico, gostaria de enaltecer a razão como um dos alicerces para o conhecimento, embora as vezes seja moldada pelo ceticismo exacerbado daqueles que manipulam os instrumentos de percepção e apreensão do saber, mas reconheço que a fé possui espaço na discussão, entendendo que nem sempre o caminho da razão pode ser explicado por uma equação simplista que tem sua gênese em nosso cérebro e creio que ambas, razão e fé, podem caminhar juntas, cada uma dando suas contribuições relevantes no nosso cotidiano ato de fazer ciência.

Lago da Pedra, 18 de janeiro de 2011.

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