quinta-feira, 31 de março de 2011

RECORDAR É VIVER: O CULTO AO CORPO OU A MITIFICAÇÃO DA BELEZA


A paz do Senhor a todos!

A partir desse momento, sempre que possível, vou compartilhar com meus leitores meus artigos que escrevi nos últimos 10 anos. A seguir, um artigo escrito em 24/11/2006, assim que a ocorreu a morte da modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, que faleceu dia 14 de novembro de 2006 de anorexia nervosa. O assunto foi para a mídia e, na época, eu era diretor uiversitário e a comunidade acadêmica, formada majoritariamente por jovens, ficou aguardando uma posição nossa sobre o ocorrido. O título do artigo foi:

O CULTO AO CORPO OU A MITIFICAÇÃO DA BELEZA. Ei-lo abaixo:

Parece até deja wu. Sempre que alguma figurinha importante do meio artístico (moda, música, cinema, etc.) sofre complicações de saúde ou morre em decorrência da busca pelo modelo estético pessoal ideal, lá vamos nós, educadores, psicólogos, analistas de plantão e populares emitir nossa opinião sobre o assunto. Blá blá blá pra cá, blá blá blá pra lá, mas fica sempre uma pulguinha atrás da orelha: por que as pessoas são tão repetitivas?? Por que os exemplos (maus, evidente) que a Mídia dilacera para a opinião pública não são levados a sério por modelos, artistas em geral e adoradores do culto ao corpo?


Senão, vejamos, só para exemplificar dois casos tupiniquins: na manhã de 9 de outubro de 1996, a modelo e atriz Cláudia Liz deu entrada na Clínica Santé, em São Paulo, para se submeter a uma lipoaspiração. Horas mais tarde, ela foi levada às pressas para o Hospital Albert Einstein em coma. O Brasil todo acompanhou o que aconteceu pela TV e pelos Jornais, da internação à alta. O diagnóstico, nas palavras da própria modelo: “...foi um broncoespasmo... Esse broncoespasmo me deu um edema cerebral, entrei em coma em grau oito [a escala vai até dez], pois quando cheguei no Einstein estava em convulsão. Na clínica, de onde o Celso me tirou por volta das 18h, eles me sedaram porque se não fizessem isso minha cabeça iria "explodir". O edema foi aumentando. Tive falta de oxigenação no cérebro... Na época em que fui fazer a "lipo" era para ficar como estou agora. A vida me tirou esses quilos. Eu já fui anoréxica, sem saber que era. Tem um monte de modelo que é doente e não sabe. Sempre tive uma alimentação completamente errada.”[1].

Depois ela confessou que tudo aquilo aconteceu porque ela foi extremamente vaidosa e havia, digamos, uma “pressão” por parte de algumas agências que a estariam sondando para alguns trabalhos (desfiles, books, etc.).

Vou citar apenas esse caso, ocorrido em 1996, para contrapor com um recente, que foi a morte da modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, que morreu dia 14 de novembro de anorexia nervosa[2], depois que seu quadro se agravou e evoluiu para uma infecção generalizada. Carolina tinha cerca de 40 quilos e 1,74 m de altura e foi internada dia 25 de outubro com insuficiência renal. Ela foi enterrada no cemitério de Pirapora do Bom Jesus, na grande São Paulo.

Por que a busca pela beleza tem ceifado tantas vidas e causado sérios problemas em muitos artistas, aqui e no resto do mundo? Será que a felicidade está associada a um belo e escultural corpo, formas perfeitas? Por que a beleza é tão explorada neste início de século XXI? Por que a perfeição estética é tão necessária e cobrada pela mídia?

Bem, dentro do escopo da Filosofia, a estética é a disciplina que se ocupa com a investigação racional do belo e com a análise dos sentimentos por ele provocados.

Na medida em que a arte começou a ser entendida como canal de expressão da beleza e do belo, também passou a ser alvo das reflexões estéticas. Dessa maneira, o belo, a arte, as emoções estéticas, os sentimentos e os juízos estéticos são temas presentes nas discussões e especulações da área da filosofia denominada estética.

No dualismo de Platão, ele desnuda-nos duas situações extremamente opostas: diz que esse mundo sensível, de nossas experiências terrenas, esse mundo físico, essa “prisão”, não concentra em si mesmo a realidade última, verdadeira... Para ele, a verdadeira essência das coisas, dos nossos conceitos, do ser cognoscente das pessoas, de nossos sonhos, desejos e ambições residem num plano superior de nossa existência, o “Mundo Ideal”, ou “Mundo das Idéias”. Assim, esse conceito de beleza que nossa sociedade tanto enaltece, busca, exige e defende como sendo “o caminho para o sucesso imediato”, para a mídia, tv, mundo fashion etc, não teria nenhum valor para Platão, posto que tudo isso é efêmero, perecível... Para ele, o que nós devemos buscar e conservar são os sentimentos mais íntimos, da verdadeira essência do belo, da beleza.... Então o belo é o bem, é a verdade, é a perfeição; existe em si mesma, apartada do mundo sensível, residindo, portanto, no mundo das idéias.

Em O Banquete, Platão define o amor como sendo a junção de duas partes que se completam, constituindo um ser andrógino que, em seu caminhar giratório, perpetua a existência humana. Esse ser, que só existe no mundo das idéias platônico, confere à sua natureza forma e uma espécie peculiar de beleza: a beleza da completude, do todo indissociável, e não de uma beleza que simplesmente imita a natureza.

Assim, temos em Platão uma concepção de belo que se afasta da interferência e da participação do juízo humano, ou seja, o homem tem uma atuação passiva no que concerne ao conceito de belo: não está sob sua responsabilidade o julgamento do que é ou não belo.

Mas não é o que acontece, parafraseando o mestre Platão, nesse nosso “mundo sensível”, das emoções, da vida ir(real) que nós vivemos no dia-a-dia, em nossas rotinas, com nossos problemas e elucrubações físicas e metafísicas, vez por outra... Não... Aqui, é a lei do mais forte ou do mais belo... Mas quem dita essas regras? Quem está no controle de nossas vidas ao ponto de não termos mais amor próprio?

Uma das responsáveis por tudo isso é a própria mídia, que superexpõe e enaltece o estereótipo das supermodelos, faz super cobertura nos fashionweeks, leva os atores e atrizes para as capas das revistas semanais (de fofocas) mais conhecidas do país, mostra a todo momento, nos comerciais brazucas e enlatados (aqueles produzidos nos EUA tipo exportação) feitos sob medida para os países em sub, ops, digo em desenvolvimento, os corpos de modelos e atores supersarados, ao custo de dias e noites (e mais algumas substâncias proibidas por lei - bombas) em academias “especialializadas”, que se multiplicam como enxame de abelhas por todo o país, especialmente nos grandes centros de diversão do país.

Tem culpa também as “agências de modelos”, que praticamente obrigam e ditam o ritmo das vidas de seus contratados e contratadas, impondo-lhes o fardo de permanecer com um “peso ideal”, exigidos por contratos milionários, onde a “imagem perfeita” vende roupas para as altas e mais produtivas estações de moda. Isso sem falar que um belo corpo é garantia de trabalho e “moeda de troca” indispensável para alguns e barganha íntima com proprietários de agências, barganha essa que “pode garantir o sustento da família”, mesmo que pra isso se abra mão da dignidade do corpo, que passa a ser usado como objeto de uso sexual por quem “pagar mais”, quem “oferecer um trabalho”, quem “abrir a oportunidade para um book” etc.

Essa via crucis atinge tanto a homens, como mulheres, no meio artístico em geral. A Anorexia nervosa que ataca as mulheres, também ataca os homens, geralmente modelos que desejam migrar para o meio artístico televisivo: os talkshows, programas de auditórios e as famigeradas “novelas”, o palco ideal para a exposição do “corpo perfeito”, das “belas formas”, que rende, além da superexposição, contratos milionários com as grandes marcas de cerveja, de calçados, de alimentos e etc.


Nos homens, esse exagero perfeccionista corporal é denominado de vigorexia[3], e está associada à busca pela perfeição corporal.

O Dr. José Rui Bianchi, médico psiquiatra e autor do livro “Emagrecer também é Marketing” – DVS Editor, diz que “a insatisfação consigo mesmo demonstra a falta de auto-estima, principalmente com a imagem corporal. O fato da pessoa não se ver bonita é mais mental do que a própria realidade. Quando a pessoa se gosta, suas células do rosto (que tem a mesma origem do folheto embrionário do sistema nervoso) demonstram esse sentimento e ela se vê e se sente bonita. O rosto mostra o que a pessoa sente e isso é inconsciente. Quantas pessoas saem de casa achando-se feias e, por conseqüência, têm a sensação de que as outras pessoas estão achando a mesma coisa. Uma das maneiras de se combater a anorexia e a vigorexia é manter a auto-estima elevada, que já comentamos em outras matérias. Nos dois casos, as pessoas devem procurar ajuda profissional”.

A pesquisadora Ana Lúcia de Castro, doutora em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - IFCH/Unicamp, em Artigo publicado em Lecturas: Educación Física y Deportes em março de 1998, assim declama: “É possível entendermos a preocupação com o culto ao corpo como traço característico das sociedades contemporâneas, assim como também aspecto intimamente ligado à constituição do "moderno". Nicolau Sevcenko aponta a preocupação com a corporeidade como uma das mais importantes características da atmosfera moderna que envolvia a nascente metrópole tecnológica por ele estudada: a São Paulo dos anos vinte. Segundo este autor, sob a genérica denominação de "diversão" ou "entretenimento", há uma série de hábitos físicos, sensoriais e mentais que, embora existissem desde o começo do século na cidade de São Paulo, são incorporados sistematicamente no cotidiano de seus habitantes na segunda década do século XX.
“O antigo hábito de repousar nos fins de semana se tornou um despropósito ridículo. Todos para a rua: é lá que a ação está... Não é descansando que alguém se prepara para a semana vindoura, é recarregando as energias, tonificando os nervos, exercitando os músculos, estimulando os sentidos, excitando o espírito...(Esses hábitos) são arduamente exercitados, concentradamente no fim de semana, mas a rigor incorporados em doses metódicas como práticas indispensáveis da rotina cotidiana.”[4]

Continuando, a Dra. Ana Lúcia apregoa que “...a explosão publicitária no pós-guerra, por sua vez, foi, sem dúvida, grande responsável pela difusão de hábitos relativos aos cuidados com o corpo e às práticas de higiene, beleza e esportivas, preconizadas por médicos e moralistas burgueses desde o início do século. O desenvolvimento do cinema e da televisão, com sua rede de "olimpianos” [5], muito contribuiu para os profissionais dos cuidados com o corpo venderem suas imagens e seus produtos. Mas é importante ressaltar a mudança de comportamento que se impunha nesse momento. Ao colocarem suas imagens (estrelas de cinema com sorriso branco e cabelos brilhantes anunciando creme dental e xampu), esses profissionais colocavam em jogo novas práticas, difundiam uma nova maneira de lidar com o próprio corpo e um novo conceito de higiene, a tal ponto que, como afirma Prost, "os comerciantes contribuíram mais do que os higienistas para difundir os novos hábitos do corpo”[6].

Sob os anos sessenta, ela entende que “... são palco da difusão da pílula anticoncepcional, da chamada "revolução sexual" e do movimento feminista, elementos que, associados à contracultura e ao "hippismo" contribuirão para a colocação da corporeidade como importante dimensão no contexto de contestação que marca a década. O corpo é colocado em cena pela contracultura como lócus da transgressão, do delírio e do "transe", através das experiências da droga e do sexo”.

Os anos oitenta podem ser entendidos como um marco importante para a temática, na medida em que nessa década a corporeidade ganhou vulto nunca antes alcançado, em termos de visibilidade e espaço no interior da vida social, pois se no período anterior os cuidados com o corpo visavam a sua exposição durante o verão, a partir da década de oitenta as práticas físicas passam a ser mais regulares e cotidianas, expressando-se na proliferação das academias de ginástica por todos os centros urbanos. Paralelamente a esse processo temos o advento da chamada "Geração Saúde", a partir dos anos oitenta, representativa de certa postura frente à vida que, de certa forma em oposição ao padrão de comportamento representativo da geração de seus pais, levantam a bandeira anti-drogas, com destaque para o tabagismo e o alcoolismo, ao lado da defesa da ecologia, do naturalismo e do chamado "sexo seguro" - fenômeno também fortemente relacionado ao advento da AIDS - que em alguns casos significa a revalorização da virgindade feminina, não mais até o casamento, mas até a certeza de que o primeiro relacionamento sexual signifique o envolvimento afetivo prolongado com o parceiro.

Mas o que teria levado as sociedades contemporâneas a intensificar a preocupação com o corpo e colocá-la como um dos elementos centrais na vida das pessoas? É possível arriscarmos algumas hipóteses. Em primeiro lugar, essa intensificação está ligada à própria história da moda, que pode ser entendida como as imagens sociais do corpo, o espelho de uma determinada época e nesse sentido é interessante lembrarmos que no Séc. XIX a camisola só podia ser usada no interior do quarto e qualquer referência a ela, em público, seria motivo de rubor. Cabelos soltos, da mesma forma, só eram permitidos no espaço privado, sendo o penteado uma exigência para o espaço da rua. Mostrar o corpo não era também muito comum, as pessoas decentes andavam de luvas e chapéus, mostrando apenas o rosto, com exceção dos trajes de noite femininos, que apresentavam grandes decotes. Gradualmente, a flexibilidade no vestuário vai ganhando espaço frente à rigidez. Os homens passam a usar colarinhos mais flexíveis e chapéus de feltro moles no lugar dos colarinhos duros e chapéus rígidos, enquanto as mulheres vão abandonado os corpetes e as cintas, que cedem lugar à calcinhas e sutiãs. As saias vão se encurtando, as meias valorizam as pernas e os tecidos pesados vão sendo substituídos por mais macios que salientam as curvas do corpo.”[7]

Hoje, em pleno século XXI, podemos afirmar que o cinema de Hollywood ajudou a criar novos padrões de aparência e apresentação físicas, levando a um público massivo a importância do "looking good". Hollywood difundiu novos valores da cultura de consumo e projetou imagens de estilos de vida glamourosos para o mundo inteiro. As estrelas de cinema ajudaram a conformar um ideal de perfeição física, introduzindo novos tipos de maquiagem, cuidados com cabelos, técnicas para corrigir imperfeições.

A observação do Programa Malhação nos permite afirmar que seu formato recupera e atualiza matrizes genéricas, trabalhando temas do universo adolescente. Tendo como formato básico episódios semanais, compostos por 5 capítulos de 30 minutos, esta espécie de "mini-novela" vai ao ar de segunda a sexta, às 17:30, tendo a clara intenção - através do elenco e das temáticas - de captar o segmento jovem. O Elenco é mais ou menos fixo: os freqüentadores da academia e funcionários (médica, recepcionista, professores), sendo que em cada episódio são convidados dois ou três atores que entram temporariamente na trama.

Embora tenha algumas características da "Soap Opera" americana, como o tempo em que está no ar (dez anos) e o elenco mais ou menos fixo, não podemos definir Malhação como uma clássica "Soap Ópera", pois esta tem a característica de cada capítulo encerrar-se em si mesmo," (Allen, 1985) o que não ocorre em Malhação, que exige do expectador um acompanhamento diário para que não se perca no encadeamento da narrativa.

As histórias giram em torno do universo adolescente, tematizando a virgindade, a sexualidade, os prós e os contras na decisão em se casar. Na maior parte do tempo a cena se desenrola no interior da Academia, e são diversos os espaços existentes, mostrando que tudo pode ser feito sem necessitar sair de lá: sauna, cantina para lanche, restaurante de comida japonesa, locadora de vídeo, lojas de roupas e acessórios, ambulatório; mas boa parte dos diálogos ocorrem sobre aparelhos de ginástica e no vestiário, espaço no qual as meninas podem trocar segredos íntimos sem o risco de algum garoto ouvir, pois os vestiários são separados por sexo. É curioso notarmos que quando a câmera sai do interior da Academia, vai para ambientes em que corpos estão em evidência, como a praia, por exemplo, e, embora mude o cenário, continuam predominando, em termos de imagens, coxas, torsos, umbigos e bumbuns perfeitamente esculpidos, entre as cores vivas dos biquínis e maiôs.

É curioso observarmos que este momento em que o culto ao corpo ganha espaço no interior da vida social é, coincidentemente, próximo do apontado como o ponto de inflexão das sociedades capitalistas ocidentais, que passariam a ter uma nova configuração. Se a modernidade entra numa nova etapa e ganha contornos diferenciados, o mesmo ocorre ao culto ao corpo, ou à relação dos indivíduos com seus corpos, pois se o desenvolvimento técnico tem tido grande influência sobre a vida social nessa etapa contemporânea da era moderna, o mesmo pode ser dito com relação à corporeidade. A técnica tem impactado em muito a relação dos indivíduos com seus corpos na sociedade contemporânea. A possibilidade de esculpir-se ou de se desenhar seu próprio corpo se coloca como algo que propicia a cada um estar o mais próximo possível de um padrão de beleza que é estabelecido globalmente; afinal as medidas do mercado da moda são internacionais.

É, então, o momento, de darmos um break e analisarmos tudo que temos visto. De um lado, a necessidade de trabalho, de estabelecer um status quo, de manutenção das famílias, dependentes na quase totalidade dos “contratos” que os filhos estabelecerão com agências de modelos, produções de novelas, grandes marcas, escolas de sambas, etc... De um outro, o amor pela vida, bem que está sendo desprezado com o consentimento, com raríssimas exceções, dos pais, mesmo que inconscientes e daqueles que dominam o setor empresarial desse filão no país e no mundo.

O que nós queremos para nossos filhos e filhas?

Umas das autoridades mais conceituadas na área, O médico brasileiro Ivo Pitanguy, “guru” da cirurgia plástica mundial, considera “exagerado” o atual culto ao corpo, estimando que é mais importante “o culto à inteligência”. “Esta exagerada atenção ao corpo não é culpa da cirurgia plástica, mas do marketing que vende a imagem da juventude, da beleza”, acrescentou Pitanguy em Madri, onde participava de um congresso de patologia mamária.

Pitanguy, 80 anos, fez em 51 anos de carreira mais de 60 mil operações de cirurgia plástica em sua luxuosa clínica do Rio de Janeiro, algumas delas em celebridades como Sofia Loren e Elizabeth Taylor, além de ter formado em sua maneira de operar mais de 400 cirurgiães em todo o mundo.

“A cirurgia estética é para se sentir bem com você mesmo, não para os outros”, acrescentou.
Grande especialista em “lifting” facial feminino, Pitanguy destacou o número crescente de homens que se operam, principalmente para tirar as bolsas sob os olhos e reduzir os “pneus” na cintura.

Ele mesmo nunca se submeteu a uma intervenção de cirurgia plástica, pois afirma que tem medo dos médicos e de ser operado.

A Espanha, onde quase 300.000 pessoas se submetem todos os anos a uma operação de cirurgia plástica, está no primeiro plano europeu neste setor.

Concluindo, deixo as palavras do filósofo francês Gilles Lipovestsky, em recente entrevista à Silvia Rogar, da revista Veja. Segundo ele, "Estar na moda, não se restringe ao vestuário apenas, rege outras esferas da vida como o culto ao corpo, o consumo e o bem-estar". Isto é interagir socialmente de uma maneira participativa e extremamente benéfica numa época de globalização.

Entretanto, diz ele, tem que haver uma certa dose para este novo conceito social frente ao belo. Se a visão for muito micro, a ótica de tais preocupações poderá gerar um aumento da ansiedade, angústia e depressão. Isto quer dizer o seguinte: há atualmente, incontestavelmente, o culto ao corpo e à saúde, mas a dose para tal preocupação precisa de um certo equilíbrio para que a vida não gire apenas em torno desta temática e se torne uma obsessão com tendências patológicas.

É aqui que afloram a anorexia e a vigorexia. Vigiemos, pois ...

NOTAS:

[1] Cláudia Liz, em entrevista à Revista MARIE CLAIRE, setembro de 2000.

[2] Transtorno alimentar no qual a busca incansável por magreza leva a pessoa a recorrer a estratégias mirabolantes e perigosas para perder peso, ocasionando emagrecimento compulsório e prejudicial à saúde. As pessoas anorexas apresentam um medo mórbido de engordar, mesmo estando extremamente magras. Em 90% dos casos, acomete mulheres adolescentes e adultas jovens, na faixa de 12 à 22 anos. É uma doença com riscos clínicos, podendo levar à morte por desnutrição.

[3] Síndrome do corpo perfeito, em que o homem nunca está satisfeito com sua imagem. É um transtorno psiquiátrico do culto ao corpo. Mesmo que o homem esteja musculoso, se vê miúdo e fraco.

[4] SEVCENKO, N. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20, p. 33


[5] Os "olimpianos" são definidos por Edgar Morin como os seres transformados em "sobre-humanos" pela cultura de massa. São os astros e estrelas de cinema, os campeões esportivos, governantes, pintores e literatos célebres. A imprensa seria responsável por "revesti-los de um caráter mitológico" e, por outro lado, por buscar "mergulhar em suas vidas privadas a fim de extrair delas a substância humana que permite a identificação."

[6] PROST, A. "Fronteiras e Espaços do privado". IN: ARIÉS, P. & DUBY, G. História da Vida Privada, vol 5, p. 98.

[7] __________Ibdem.

Bibliografia

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Prof Damasceno

24/11/2006

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